Céu, de conhecido e em comum, naquele momento o que tínhamos para falar era sobre o céu, mas
não falamos do céu nublado, falamos de como os trens no Brasil são tão mais
lentos, mas ainda assim é a forma mais segura de você ter me conhecido — Isso
foi apenas um pensamento, eu não disse, não quis mostrar que era uma daquelas
pessoas que só sabem reclamar da política, na verdade, muito verdadeira, eu nem
sei como votar num candidato ainda, quais critérios eu devo levar em conta,
Sua calça combinava com o céu, isso eu nunca vou esquecer... “Eu vou de blusa
preta e calça cinza”. Achei engraçada a escolha de cores, mas não perguntei o
porquê. Talvez goste de andar assim, ou talvez goste também, assim como viajar
de trem por ser mais seguro, apostar em cores mais neutras e combinações mais fáceis
de dar certo.
O sorriso dele foi a luz que faltava, mas prefiro não falar sobre energias ou
luzes, não quando quem me deu o sorriso mais bonito, é um engenheiro atípico.
ATO I —
A fumaça.
Meus pés
não tocam o chão ao acordar, digo, não o chão que costumo pisar todas as
manhãs, o chão frio do meu quarto com pouca mobília, tocam a terra, sim, terra
daquelas vermelhas. Ao meu lado esta ele: Camisa aberta, jeans rasgado, ele
está com seus coturnos comprados em Londres, então, me vem a primeira duvida,
onde estariam meus sapatos? Mas percorro meus olhos e os acho. Tem mais pessoas
ao nosso redor, umas 15 ou 25, não consigo contar todas as pessoas, todo mundo
tão próximo, fica difícil. Ele ainda dorme. Dorme com o semblante fechado, mas
basta lembrar-se do seu sorriso, que o semblante fechado dele se torna o menos
preocupante.
Estamos sujos. Não temos mais dinheiro pra nada. O que temos ali é o pouco
cigarro que restou de ontem. O cigarro que ele não fumava a tanto tempo, mas
voltou ontem, porque eu o dei na boca. Então, enquanto olho para o céu, sinto
seus olhos caírem sobre mim, mas continuo olhando o céu, imaginando o que seria
de nós dois se não tivéssemos nos conhecido, não fico triste, mas fico vazio, é
estranho, mas parece que de um jeito ou de outro eu acabaria conhecendo-o.
— Bom
dia. — Ele me diz num sorriso torto.
Eu
apenas olho e sorrio. Volto para o céu. Os pássaros dançando sobre nós. Ele se
coloca atrás de mim e deposita um beijo nos meus ombros. Acendo um cigarro.
Fumo devagar. A fumaça invade seus pulmões e por um minuto eu tenho inveja,
tenho inveja da fumaça que fica impregnada na sua pele, na fumaça que fica presa
e se mistura com o oxigênio que ele precisa. Eu também queria impregná-lo.
Deixar o meu cheiro, e chegar até seus pulmões. Queria poder fazer com que os
outros sentissem o meu cheiro nele e não o cheiro de um cigarro barato, por
mais que fosse meu cigarro barato, ninguém saberia que era meu, poderia ser de
qualquer um, ele poderia ser de qualquer um com aquele cheiro, porém, se fosse
com o meu queiro, seria apenas meu. Ele deposita mais um beijo nos meus ombros
e me puxa ainda mais pro seu colo. O céu ou algum Deus nos olham com carinho.
As pessoas começam acordar e eu começo a reconhecer o rosto de cada um. É
estranho cercar-se de várias pessoas, quando você ficaria feliz estando com uma
pessoa.
Não soltei nenhuma longa frase ou grandes teses sobre algo que eu acho ainda,
ele não estranhou, talvez ele até agradeça quando eu fico em silêncio. Observo
as mulheres com seus homens, é engraçado, porque sou o único homem pertencente
de outro homem aqui e me sinto tão mais feliz do que elas. Meus olhos caem
sobre ele e eu digo.
— Bom
dia. — Num sorriso de satisfação.
Ele não
entende porque do meu bom dia ter saído só agora, e antes que ele pergunte, em
negativa balanço a cabeça, para que ele fique em silêncio e entenda que tudo está
bem.
Meu ultimo cigarro está na minha boca. Ele agora fica entre minhas pernas. O
céu, é a única coisa que conhecemos de verdade ali, nem a nós mesmos conhecemos
muito bem, ele morava fora, eu sonho em morar fora, ele cozinha e eu também. O
céu é a única coisa que sabemos bem como é, mas mesmo assim, tenho minhas
dúvidas. Sopro minha fumaça devagar sobre seu corpo, ele fecha os olhos e eu
sei que ele não vai mais esquecer disso, mas isso me deixa em sinal de alerta,
quando olho pro alto e vejo a fumaça sumir bem na minha frente. Talvez eu seja
a fumaça, mas talvez eu seja a fumaça que ele solta dos lábios e desaparece. Eu
o aperto contra meu corpo e no seu ouvido pergunto:
— Já
disse do que você tem cara?
— Não...
— De um pronome
possessivo...
— Meu?!
Minha
cabeça faz um “sim” frenético e meu sorriso fica num tamanho jamais visto, nem
por mim e muito menos por ele. Por mais que eu seja a sua fumaça, aquele
momento não vai sumir.
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Não
demonstrou estar tímido. Não demonstrou ter medo.
Caminhamos para, onde segundo minha mãe, foi o pior lugar que eu poderia ter o
levado. Lá era verde. Um verde bonito. Esse texto se torna quase bucólico nesse
parágrafo, de tão verde que tinha. Sua voz entrava nos meus ouvidos e meus
pensamentos estavam indo embora, eu não sabia mais onde estava, ou com quem estava.
Era apenas encanto. Sorriso e olhos perfeito. Suas mãos estavam nas minhas
pernas e eu só olhava para seus dentes.
Expectativa para o primeiro beijo. Expectativa para quando seus olhos
estivessem nos meus. Eu depositava coisas nele que eu não havia contado e que ainda
não contei. E no momento o pensamento que martelava em minha cabeça era “não
bata os dentes nos meus, por favor!” e acabamos não batendo os dentes. Só havia
espaço para nossos beijos e o único barulho era o de nossa respiração ficando
mais ofegante. Eu acabara de ter uma certeza, por mais recente que fosse, ou
por mais louco que eu seja, era essa boca e esse beijo que eu queria na minha
história.
ATO II —
Coração gelado, “heart blue”
Chove lá
fora. Minha cama tem um vazio que sempre teve, mas na ultima noite foi ocupado
por ele. Ele não tem olhos verdes, mas é maravilhoso. Meu coração tem um espaço
ocupado, é estranho depois de tanto tempo vazio. Suas mãos foram tão precisas
na ultima noite e seu calor foi tão bom, que dormir com o vazio de sempre é
errado.
Bebo um pouco da cerveja de ontem a noite, ele faz falta e o pior de tudo é que
temos alguns quilômetros nos separando, não são muitos, mas são quilômetros,
mais de mil metros. Um dia após o outro, é o que todos querem, inclusive ele...
Mas isso me aterroriza, porque nunca sei quando e como vou chegar no outro dia.
Mas me controlo. Tomo mais uma dose e meu celular chama, são outros caras que
querem sair comigo. O copo está na minha boca. Não fico tentado em sair, mas eu
poderia sair. Não quero sair porque quando quero algo, não perco o foco e isso
acontece quando gosto de alguém, eu quero só um quando eu gosto, não preciso de
dois ou três, porém ele não faça isso, não temos um compromisso em cartório e
muito menos em status de redes sócias, porém temos um ao outro, assim eu
imagino.
Tem sol e mesmo assim faz frio. Jeans cortados numa bermuda, meus pelos se
arrepiam de cinco em cinco minutos. Eu sempre saio de casa com roupas erradas e
ele sabe, mas o que ele não sabe, é que sempre que saio de casa quero voltar
pra cama que foi nossa por uma noite. Em breve estamos juntos de novo, mas até quando?
Ele me joga no futuro, mas ao mesmo tempo me resgata pro presente e deixa-me
ver o futuro só por uma fresta. Eu o empurro de volta pro futuro, mas também o
resgato pro presente e quase faço conhecer
meu passado, mas sei que no final, eu vou puxá-lo pro meu futuro, ele querendo
ou não.
Seu coração é frio, gelado. Não sou eu quem diz e sim ele, o que eu acho
estranho e me assusta, até um tempinho atrás, questão de 3 ou 4 dias, ele não
se colocava como o “Sr. Coração gelado”. Eu me esqueci de avisá-lo, me desculpe
desde então, eu sou um maníaco compulsivo, a menor das mudanças são as que eu
mais faço tempestade, talvez seja tarde demais, talvez eu agora tenha medo de
segurar em suas mãos.
Eu gosto dele, confesso. É um monologo o meu sentimento? Talvez, mas na verdade
não importo, eu tenho uma missão agora. Derretê-lo. Deixá-lo quente. Não só
quente, mas fervendo por mim.
ULTIMO
ATO — Descobrir.
Vemos a
imagem de uma santa iluminada no alto de uma árvore. Não estamos drogados, só estamos
assustados, Deus roga pelos pecadores, mas se não quisermos que ele rogue para
nós? Envolto numa redoma de diamante, você me olha e olha para imagem. Sorri
tímido, mas eu não sorrio de volta. Eu não sorrio porque sei que seu sorriso é
de quem não sabe se vai ficar ou vai embora. Eu guardo meus dentes, sempre
muito brancos, e coloco um lábio numa linha fina, de quem quer que você fique.
— Vamos
embora? — Você me olha e olha pro lado, tentando mostrar que está escuro demais
e que ninguém mais está por aí.
Eu
apenas ando. Ele passa seus dedos entre os meus. Estamos atados e essa é a
sensação que eu quero continuar vivendo. Sei o que ele pensa, mas eu finjo não
saber. Fumo meu cigarro e guardo minhas palavras de desespero, porque é isso
que eu sei fazer de melhor, desesperar. Onde vamos parar? Eu não tenho a
paciência que ele tem e muito menos a frieza. Meu sangue corre nas minhas veias
como quem corre atrás de sua ultima esperança, sou jovem, eu sei, mas quando
vejo oportunidades de um possível amor, é como se fosse o fim. Minha garganta
fecha só de pensar que ele tem outros garotos e o pior, não sou o seu favorito.
Ele me encara curioso, olho para seus olhos de volta e não digo nem meia
palavra. Eu não sei se isso o deixa irritado, mas ele não gosta de quando não
sabe das coisas. Também sei que ele não gosta de se apressar, e na verdade nem
eu. Gosto de tê-lo um pouquinho a cada dia, mas quando os dias vão se
arrastando e vejo que só eu estou me doando, a loucura me toma e muda meu
trajeto.
Mas aí que vem o problema, sobre descobrir, eu não sei que fazer. Descobrir
sobre o que vem por aí me deixa com medo, porque se o que vem não é o que eu
quero? E o que eu quero não é o que ele quer?
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Meus
olhos marejaram ao vê-lo partir. Quis ir junto, louco da vida, sem pressa pra
voltar. Quis prendê-lo em mim, sem preocupação alguma com o seu trabalho, ele
não morreria de fome. Mas preferi me segurar, ele vai me esperar, eu acho.
Minhas mãos não queria soltá-lo, por saber, que a dor de quem vai fica ali.
Quanto tempo nos conhecemos? Recém completados um mês. Não sei se ele é o
grande amor da minha vida, talvez não, mas enquanto ele estiver na minha
história vou tratar como se fossemos. Uma vida planejada em Londres não é por
acaso. Um futuro promissor ou um futuro promissor separados? Seria a melhor
escolha juntos, mas não depende só de mim. O seu coração é gelado, mas eu ainda
não conheci. A sua boca quente e isso eu posso afirmar que conheço bem. Suas
mãos ficam tão lindas perto das minhas. Seu sorriso é mais valioso que qualquer
colar de pérolas... Mas o nosso futuro juntos? Bem, ele é amanhã... E amanhã
ele vai estar comigo.
Em três atos ou em várias metáforas, o único medo é o da partida.