terça-feira, 27 de maio de 2014

Emoldurado

Estou emoldurado, sou uma obra de arte viva e você se assusta com isso.
Aquarela que recita poemas de amor, tão doces quanto o bolo de chocolate que você fez no domingo — por mais que a massa fosse dessas industrializadas, onde só precisa-se de dois ovos e um pouco de leite —, mas minhas cores foram criadas, o meu abstrato deu trabalho de ter chegado onde chegou.
Desenhado para encantar, eu poderia ser a fumaça que está nos seus pulmões, eu poderia ser o câncer que te mata aos poucos, só pra poder ficar até o ultimo fio da miada com você. Ir embora é tão triste, que não cabem em minhas lágrimas. Onde ficam as lembranças quando eu sou quem te afoga aos poucos? Onde fica o seu folego e a vontade de me tocar outra vez, quando eu sou quem suga você com todas as forças e desespero impregnados e pintados à óleo em mim?
Abra seus olhos e me veja nas fotografias em preto e branco. Você me fez sorrir por nada, e ainda faz, mas hoje eu tenho medo de sorrir por nada de novo, é complicado saber o quão errado pode ser suprir os sentimentos, é complicado quando se pisa num solo que não adere. Eu escorrego nas curvas quando estou correndo para seus braços. Eu fico no cinza e nunca no azul. Eu sou um soneto que mostra o meu desespero e precisão de ter você aqui por mais um tempo.
Eu sou a obra de arte fora da sua coleção. Sou o acorde que você não consegue tocar no seu instrumento... Mas eu posso pertencer a você.
Estou emoldurado e quero estar na sua parede.
Quero ser a fumaça que agride seus pulmões. Ser o câncer que te definha.
Ser o sorriso e o brilho dos seus olhos.
Quero ser o seu poema de amor.
Cansei de ser um livro desprezado, quero ser lido até a ultima palavra e que você entenda as minhas vírgulas e reticencias. 
Quero ser sua obra de arte.
Quero ser teu.
Sem nenhuma reminiscência, eu quero ser quem te vê sorrir.
Em frases rimadas ou em algum rosto caricato, quero gritar que você é meu.
Estou emoldurado, esperando ser teu.
Ser teu.
Ser a sua obra de arte.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Amargar da saudade

O gosto de menta ainda está na sua boca?
Dois adolescentes que querem enfrentar o mundo, é assim que enxergo tudo que vivemos. Caminhando para o fim, nós dançamos para os céus sem muita preocupação. "Se fossemos uma música, você seria o refrão, porque tenho certeza que todo mundo tem você no pensamento", dizia para mim com um sorriso perigoso, mas ele não sabia que no meio de todo aquele vento que fazia com que nossos cabelos dançassem junto de nós, a única coisa que ocupava a minha cabeça era ele. Ele era o tom, a letra e as notas.
O sol queimava nossa pele tão branca, que quando já estava noite não conseguíamos tocar um ao outro, então, essa era a pior parte de estar no sol. Eu já havia visto suas lágrimas e ele as minhas, mas nunca conseguimos fazer com que a dor sumisse. Talvez ela nunca tenha estado ali, talvez fossemos jovens demais para entender o que é realmente dor, as vezes acho que só estávamos muito machucados. Havia muito sangue quando nos conhecemos... Bem, hoje o único sangue que existe é o que está percorrendo as minhas veias, veias essas que não estão mais ardendo.
O gosto de menta ainda está na sua boca? O meu gosto salgado recém saído do mar ainda está na sua boca? Por favor, me responda!
Sentir falta dos nossos dias de sol é o que mais me aterroriza no verão. Lembrar que seus cabelos não dançam mais com os meus, que os meus agora dançam sós. Meus pés se queimam e dessa vez não há ninguém do meu lado para rirmos disso, não tenho sua risada ecoando nos meus ouvidos. Onde você anda? Talvez eu entenda agora o que é ter um pedaço bom do passado no qual nós nos lembraremos para sempre, talvez você seja o meu verão inesquecível... Mas isso me fere de alguma forma tão arrasadora, que meus dedos não sabem se percorrem em direção à uma lâmina ou se vão até a tecla enter e te enviam tudo aquilo que estou guardando tem tanto tempo.
Eu ainda sinto o gosto de menta. Eu ainda sinto o gosto do seu corpo salgado e do seu sexo explodindo em mim. Eu ainda sinto o seu toque e escuto você pronunciando o meu nome de uma forma que só você sabe fazer. Eu jurava que nosso verão seria tão forte que aqueceríamos todo o inverno. Eu acreditei que era amor, hoje em dia não sei mais se tudo foi amor, foi? Minha boca na sua era amor, mas quando a sua esteve nas de outros, também foi amor? Ou apenas um deslize? Meus pés suportam muito peso, mas com você eu era capaz de dançar, hoje, bem, querido, hoje eu danço... Mas numa corda bamba e sei que posso cair em qualquer momento, triste, não é? Você me colocou no alto quando disse que eu era o refrão, caso fossemos uma música, que todos me tinham no pensamento... Depois de você, ninguém mais me cantou, nem que seja mentalmente. Depois de você o meu céu ficou cinza e meu mar sem ondas.
Duas pessoas diferente e distantes. Duas pessoas que estão no passado, você e eu, duas pessoas que seguiram, talvez, eu tenha ficado para trás, mas tudo bem, não competíamos quando nadávamos, não seria agora.
A minha boca ainda tem gosto de menta, mas também sinto o amargar da saudade.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Em atos

Céu, de conhecido e em comum, naquele momento  o que tínhamos para falar era sobre o céu, mas não falamos do céu nublado, falamos de como os trens no Brasil são tão mais lentos, mas ainda assim é a forma mais segura de você ter me conhecido — Isso foi apenas um pensamento, eu não disse, não quis mostrar que era uma daquelas pessoas que só sabem reclamar da política, na verdade, muito verdadeira, eu nem sei como votar num candidato ainda, quais critérios eu devo levar em conta,
Sua calça combinava com o céu, isso eu nunca vou esquecer... “Eu vou de blusa preta e calça cinza”. Achei engraçada a escolha de cores, mas não perguntei o porquê. Talvez goste de andar assim, ou talvez goste também, assim como viajar de trem por ser mais seguro, apostar em cores mais neutras e combinações mais fáceis de dar certo.
O sorriso dele foi a luz que faltava, mas prefiro não falar sobre energias ou luzes, não quando quem me deu o sorriso mais bonito, é um engenheiro atípico.

ATO I — A fumaça.

Meus pés não tocam o chão ao acordar, digo, não o chão que costumo pisar todas as manhãs, o chão frio do meu quarto com pouca mobília, tocam a terra, sim, terra daquelas vermelhas. Ao meu lado esta ele: Camisa aberta, jeans rasgado, ele está com seus coturnos comprados em Londres, então, me vem a primeira duvida, onde estariam meus sapatos? Mas percorro meus olhos e os acho. Tem mais pessoas ao nosso redor, umas 15 ou 25, não consigo contar todas as pessoas, todo mundo tão próximo, fica difícil. Ele ainda dorme. Dorme com o semblante fechado, mas basta lembrar-se do seu sorriso, que o semblante fechado dele se torna o menos preocupante.
Estamos sujos. Não temos mais dinheiro pra nada. O que temos ali é o pouco cigarro que restou de ontem. O cigarro que ele não fumava a tanto tempo, mas voltou ontem, porque eu o dei na boca. Então, enquanto olho para o céu, sinto seus olhos caírem sobre mim, mas continuo olhando o céu, imaginando o que seria de nós dois se não tivéssemos nos conhecido, não fico triste, mas fico vazio, é estranho, mas parece que de um jeito ou de outro eu acabaria conhecendo-o.
— Bom dia. — Ele me diz num sorriso torto.
Eu apenas olho e sorrio. Volto para o céu. Os pássaros dançando sobre nós. Ele se coloca atrás de mim e deposita um beijo nos meus ombros. Acendo um cigarro. Fumo devagar. A fumaça invade seus pulmões e por um minuto eu tenho inveja, tenho inveja da fumaça que fica impregnada na sua pele, na fumaça que fica presa e se mistura com o oxigênio que ele precisa. Eu também queria impregná-lo. Deixar o meu cheiro, e chegar até seus pulmões. Queria poder fazer com que os outros sentissem o meu cheiro nele e não o cheiro de um cigarro barato, por mais que fosse meu cigarro barato, ninguém saberia que era meu, poderia ser de qualquer um, ele poderia ser de qualquer um com aquele cheiro, porém, se fosse com o meu queiro, seria apenas meu. Ele deposita mais um beijo nos meus ombros e me puxa ainda mais pro seu colo. O céu ou algum Deus nos olham com carinho. As pessoas começam acordar e eu começo a reconhecer o rosto de cada um. É estranho cercar-se de várias pessoas, quando você ficaria feliz estando com uma pessoa.
Não soltei nenhuma longa frase ou grandes teses sobre algo que eu acho ainda, ele não estranhou, talvez ele até agradeça quando eu fico em silêncio. Observo as mulheres com seus homens, é engraçado, porque sou o único homem pertencente de outro homem aqui e me sinto tão mais feliz do que elas. Meus olhos caem sobre ele e eu digo.
— Bom dia. — Num sorriso de satisfação.
Ele não entende porque do meu bom dia ter saído só agora, e antes que ele pergunte, em negativa balanço a cabeça, para que ele fique em silêncio e entenda que tudo está bem.
Meu ultimo cigarro está na minha boca. Ele agora fica entre minhas pernas. O céu, é a única coisa que conhecemos de verdade ali, nem a nós mesmos conhecemos muito bem, ele morava fora, eu sonho em morar fora, ele cozinha e eu também. O céu é a única coisa que sabemos bem como é, mas mesmo assim, tenho minhas dúvidas. Sopro minha fumaça devagar sobre seu corpo, ele fecha os olhos e eu sei que ele não vai mais esquecer disso, mas isso me deixa em sinal de alerta, quando olho pro alto e vejo a fumaça sumir bem na minha frente. Talvez eu seja a fumaça, mas talvez eu seja a fumaça que ele solta dos lábios e desaparece. Eu o aperto contra meu corpo e no seu ouvido pergunto:
— Já disse do que você tem cara?
— Não...
— De um pronome possessivo...
— Meu?!
Minha cabeça faz um “sim” frenético e meu sorriso fica num tamanho jamais visto, nem por mim e muito menos por ele. Por mais que eu seja a sua fumaça, aquele momento não vai sumir.

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Não demonstrou estar tímido. Não demonstrou ter medo.
Caminhamos para, onde segundo minha mãe, foi o pior lugar que eu poderia ter o levado. Lá era verde. Um verde bonito. Esse texto se torna quase bucólico nesse parágrafo, de tão verde que tinha. Sua voz entrava nos meus ouvidos e meus pensamentos estavam indo embora, eu não sabia mais onde estava, ou com quem estava. Era apenas encanto. Sorriso e olhos perfeito. Suas mãos estavam nas minhas pernas e eu só olhava para seus dentes.
Expectativa para o primeiro beijo. Expectativa para quando seus olhos estivessem nos meus. Eu depositava coisas nele que eu não havia contado e que ainda não contei. E no momento o pensamento que martelava em minha cabeça era “não bata os dentes nos meus, por favor!” e acabamos não batendo os dentes. Só havia espaço para nossos beijos e o único barulho era o de nossa respiração ficando mais ofegante. Eu acabara de ter uma certeza, por mais recente que fosse, ou por mais louco que eu seja, era essa boca e esse beijo que eu queria na minha história.

ATO II — Coração gelado, “heart blue”

Chove lá fora. Minha cama tem um vazio que sempre teve, mas na ultima noite foi ocupado por ele. Ele não tem olhos verdes, mas é maravilhoso. Meu coração tem um espaço ocupado, é estranho depois de tanto tempo vazio. Suas mãos foram tão precisas na ultima noite e seu calor foi tão bom, que dormir com o vazio de sempre é errado.
Bebo um pouco da cerveja de ontem a noite, ele faz falta e o pior de tudo é que temos alguns quilômetros nos separando, não são muitos, mas são quilômetros, mais de mil metros. Um dia após o outro, é o que todos querem, inclusive ele... Mas isso me aterroriza, porque nunca sei quando e como vou chegar no outro dia. Mas me controlo. Tomo mais uma dose e meu celular chama, são outros caras que querem sair comigo. O copo está na minha boca. Não fico tentado em sair, mas eu poderia sair. Não quero sair porque quando quero algo, não perco o foco e isso acontece quando gosto de alguém, eu quero só um quando eu gosto, não preciso de dois ou três, porém ele não faça isso, não temos um compromisso em cartório e muito menos em status de redes sócias, porém temos um ao outro, assim eu imagino.
Tem sol e mesmo assim faz frio. Jeans cortados numa bermuda, meus pelos se arrepiam de cinco em cinco minutos. Eu sempre saio de casa com roupas erradas e ele sabe, mas o que ele não sabe, é que sempre que saio de casa quero voltar pra cama que foi nossa por uma noite. Em breve estamos juntos de novo, mas até quando? Ele me joga no futuro, mas ao mesmo tempo me resgata pro presente e deixa-me ver o futuro só por uma fresta. Eu o empurro de volta pro futuro, mas também o resgato pro presente e quase faço  conhecer meu passado, mas sei que no final, eu vou puxá-lo pro meu futuro, ele querendo ou não.
Seu coração é frio, gelado. Não sou eu quem diz e sim ele, o que eu acho estranho e me assusta, até um tempinho atrás, questão de 3 ou 4 dias, ele não se colocava como o “Sr. Coração gelado”. Eu me esqueci de avisá-lo, me desculpe desde então, eu sou um maníaco compulsivo, a menor das mudanças são as que eu mais faço tempestade, talvez seja tarde demais, talvez eu agora tenha medo de segurar em suas mãos.
Eu gosto dele, confesso. É um monologo o meu sentimento? Talvez, mas na verdade não importo, eu tenho uma missão agora. Derretê-lo. Deixá-lo quente. Não só quente, mas fervendo por mim.

ULTIMO ATO — Descobrir.

Vemos a imagem de uma santa iluminada no alto de uma árvore. Não estamos drogados, só estamos assustados, Deus roga pelos pecadores, mas se não quisermos que ele rogue para nós? Envolto numa redoma de diamante, você me olha e olha para imagem. Sorri tímido, mas eu não sorrio de volta. Eu não sorrio porque sei que seu sorriso é de quem não sabe se vai ficar ou vai embora. Eu guardo meus dentes, sempre muito brancos, e coloco um lábio numa linha fina, de quem quer que você fique.
— Vamos embora? — Você me olha e olha pro lado, tentando mostrar que está escuro demais e que ninguém mais está por aí.
Eu apenas ando. Ele passa seus dedos entre os meus. Estamos atados e essa é a sensação que eu quero continuar vivendo. Sei o que ele pensa, mas eu finjo não saber. Fumo meu cigarro e guardo minhas palavras de desespero, porque é isso que eu sei fazer de melhor, desesperar. Onde vamos parar? Eu não tenho a paciência que ele tem e muito menos a frieza. Meu sangue corre nas minhas veias como quem corre atrás de sua ultima esperança, sou jovem, eu sei, mas quando vejo oportunidades de um possível amor, é como se fosse o fim. Minha garganta fecha só de pensar que ele tem outros garotos e o pior, não sou o seu favorito.
Ele me encara curioso, olho para seus olhos de volta e não digo nem meia palavra. Eu não sei se isso o deixa irritado, mas ele não gosta de quando não sabe das coisas. Também sei que ele não gosta de se apressar, e na verdade nem eu. Gosto de tê-lo um pouquinho a cada dia, mas quando os dias vão se arrastando e vejo que só eu estou me doando, a loucura me toma e muda meu trajeto.
Mas aí que vem o problema, sobre descobrir, eu não sei que fazer. Descobrir sobre o que vem por aí me deixa com medo, porque se o que vem não é o que eu quero? E o que eu quero não é o que ele quer?

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Meus olhos marejaram ao vê-lo partir. Quis ir junto, louco da vida, sem pressa pra voltar. Quis prendê-lo em mim, sem preocupação alguma com o seu trabalho, ele não morreria de fome. Mas preferi me segurar, ele vai me esperar, eu acho.
Minhas mãos não queria soltá-lo, por saber, que a dor de quem vai fica ali.
Quanto tempo nos conhecemos? Recém completados um mês. Não sei se ele é o grande amor da minha vida, talvez não, mas enquanto ele estiver na minha história vou tratar como se fossemos. Uma vida planejada em Londres não é por acaso. Um futuro promissor ou um futuro promissor separados? Seria a melhor escolha juntos, mas não depende só de mim. O seu coração é gelado, mas eu ainda não conheci. A sua boca quente e isso eu posso afirmar que conheço bem. Suas mãos ficam tão lindas perto das minhas. Seu sorriso é mais valioso que qualquer colar de pérolas... Mas o nosso futuro juntos? Bem, ele é amanhã... E amanhã ele vai estar comigo.
Em três atos ou em várias metáforas, o único medo é o da partida. 

sábado, 12 de abril de 2014

A piada sobre diamantes falsos

Vazio.
Meus joelhos estão no chão e encaro o sexo de um estranho; Poucos pelos, mas os pelos existentes são claros, quase loiros. Engulo tudo, me engasgo e isso o dá mais tesão. Seus dedos estão atados nos meus cabelos, ele puxa sem pensar na dor que me causa, ele não para de puxar, cada vez mais rápido e agora eu entendo a expressão "vou foder sua boca". Ele goza em meu rosto e antes que eu o impeça, ele me fotografa, com o rosto cheio daquele líquido viscoso, com os olhos distantes. Eu o conheci na rua, ele não quis me dar um beijo, ele só quis "foder" a boca de mais um garotinho.
Meus joelhos estão no chão, mas dessa vez do meu quarto, dessa vez me encaro. Meu espelho mostra a pele pálida, os olhos fundos, o cabelo sujo e a falta de peso. Minha boca não engole nada quando não estou em casa, não sinto fome; Me sinto cansado e eu não sei explicar pra ninguém o motivo. Em casa também não tenho beijos.
Diamantes falsos, para que mais uma noite eu seduza todos, eles gostam de mim quando me comporto como o dono do mundo, é isso que todos sempre dizem gostar em mim, eles falam que me comporto como os reis e rainhas da noite. Elevado o ego, eu subo nas mesas e busco aquele que todos querem, hoje eu sou o corpo do ritual, não é assim que se joga com o pecado? Sem ter medo? Duas na veia, por favor, quantos copos já foram? Não sabemos, quando meus diamantes falsos e eu estamos debaixo do céu escuro, não queremos saber de números, quer dizer, só se os números forem codificados em centímetros. Eles riem para mim, pagam as bebidas, mas sabem que não podem comigo, aqueles do outro lado do bar estão querendo acabar comigo, eles queriam ser como eu sou, mas não conseguem.
Joelhos no chão. Encaro dois. Engulo e seguro. Não sei o nome de ninguém, mas eles me chamam de "príncipe", então devo pensar que são os malditos súditos, não avisam e me fazem engolir o prazer que só eles sentem. E mais uma vez, eles vão embora, sem um beijo de boa noite.
Pés cansados, me despindo em frente ao espelho vejo o que os anos me fez tornar, eu ainda lembro de como tudo começou... Fazem três anos, três malditos anos. Trinta e seis, perdidos, meses.

Três anos atrás.

— Então tudo que vivemos... Tudo aquilo... Foi o quê?
Pairando sobre meus olhos, eu via a desgraça.
— Foi algo bom, algo bom e real... Mas já foi.
— Mas eu não entendo. Por quê você teve que então fazer do jeito mais humilhante?
Ter mais pessoas na minha cama, ter todos os amigos sabendo que pra ele havia acabado e pra mim ainda continuava, era a pior das coisas.
— Eu tive pena de você.
Pena. O que é ter pena? É permanecer e iludir só porque a outra pessoa é um coitado. Pena, esse tipo de pena não é leve e não me faz cócegas.
Olho seus olhos e vejo o outro cara na cama assistindo a cena. Ele está na cama que era nossa. Eu surto. E me atiro nele, o outro cara.
— Desgraçado! Filho da mãe. O que pensou quando veio pra cá? Sem pudor! — estou em cima dele, seguro em minhas mãos e ele apenas ri de mim, eu não entendo. — Por quê ri? Conto alguma piada?
— Você é a piada, não vê?
Eu era a piada. Ele tinha razão. Saio transtornado, sem ver nada e nem ninguém, não peguei nada e não voltei para buscar, eu era a piada! Eu era o ingênuo, o tolo e quiçá o burro. Eu não via o que acontecia bem à minha frente e agora não via nada nas ruas, percorria sem sentido e sem saber pra onde realmente estava indo...
Era escuro e havia muitos homens quase sem roupas, eu estava ali com meus cacos no bolso, com meu coração esmigalhado e sem um futuro. Então — vou chamá-lo de "meia-noite"— o Meia-noite chegou perto de mim e me puxou para si. Era alto e forte, estava sem sua camisa. Trajava apenas jeans.
— Você é muito bonito.
— Costumo ficar bonito quando sofro então... — Cada letra que eu havia dito continha ironia.
— Posso te fazer sofrer mais um pouquinho essa noite.
Então tudo entrou numa atmosfera ainda mais escura. Ele falava de sexo e eu falava de algo que extravasasse toda dor.
— Pode tentar se quiser.
Ele me arranca do bar e me arrasta para fora com força, eu gosto. Ainda choro, eu não paro de chorar. Piada.
Ele me joga contra a parede e se esfrega contra meu corpo, me aperta forte, seus dentes estão pelo meu pescoço e minhas costas, ele desce até minha bunda e seus dentes são cravados com força nela, gemo de dor, e ele morde ainda mais forte. Sua língua me invade; Áspera e nada tímida.
— Anda seu puto, fica de quatro pra mim!
Eu obedecia.
— Coloca a camisinha...
— Cala boca, eu fodo como eu quiser esse cu!
Forte. Ele fodia sem pena. A dor física ultrapassava a sentimental por um breve momento, mas não durou muito, eu voltei pro que havia acontecido horas atrás e tudo que eu pudesse fazer pra me destruir eu faria.
— Vou gozar... Hm... Ohhhhh!
Descartado como uma boneca inflável, ele não havia perguntado meu nome, não sabia de nada, ele só queria me causar uma dor sexual, pelo menos isso eu conseguia aguentar. Volto pra dentro do bar e ele está com uns amigos que me seguram na entrada e me levam pro lugar onde eu estava com ele. Um por um dentro de mim, se revesavam, eles riam e eu aguentava tudo calado, era o minimo que eu poderia fazer para me vingar.
— Fode ele caralho! Como se fodesse uma cadela.— Foi a ultima coisa que eu ouvi naquela noite.

Três anos depois.

Minhas mãos estão tremulas, não sei quantos dias mais eu consigo viver me destruindo. Não como quase nada, meu cabelo está maior do que o normal e nunca estive tão magro. A solidão me invade e um choro violento se arrebenta. Eu não quero continuar com isso. Eu não quero ainda amar quem me fez a piada principal do seu show de humor. — E eu ainda o amo.
Me jogo no chuveiro e deixo a água lavar tudo que ela pode, meus cabelos estão tão sujos... A água cai de mim mais escura e sinto vergonha do que me tornei, desse pedaço de fracasso que perambula pelas ruas atrás de alguém que preencha seu vazio. Limpo, me arrisco a comer algo, mas não sinto fome e prefiro meu cigarro. É sexta, dia de mostrar aos anjos que o demônio não dormiu. Visto jeans rascados e justos, meus diamantes falsos me acompanhando cravados entre meus dedos e pescoço.
Reinando na noite, meus olhos estão cansados e eu não aguento mais ter que fingir interesse nas pessoas que conversam comigo.
Aumente essa dose! Quero algo bem forte, porque hoje a noite vai ser minha. A música não tem letra, apenas uma batida que me faz transcender, me jogo no meio das pessoas e eles começam a cultuar meu corpo, fazem uma roda ao meu redor, todos me olham e eu dou o que eles querem, sou o cafajeste mais desejado, sou o mais sujo. Então quando saio do meios dos homens que me cercam, lá estão eles, também olhando o espetáculo. Meu copo se quebra na minha mão e eu não ligo pro sangue que escorre, eu olho para os dois, depois de tanto tempo, os dois estão ali e mais uma vez eu sou a piada.
— Você está bem?
Não. Eu não estou. — Sim... E você? — Minha voz sai muito mais alta do que deveria por causa da música e eu não consigo olhar nos seus olhos, meus olhos se encontram com os do outro cara, que me olha com pena.
— Estou bem.
Me dirijo sem pensar, ainda embaraçado, para fora e ele vem atrás de mim.
— Por onde você anda? O que você tem feito? Ninguém teve mais noticias suas, e você está tão diferente, o que você fez? Parece... Tão... Doente.
Eu estou doente, seu babaca. Você me fez ficar doente. Você me destruiu. Eu quero sair de lá, não quero responder e não quero mais sentir a dor que eu sinto. Ele espera minha resposta, e eu olho pra ele, o outro cara, ali, atrás dele, como estava na cama que era nossa.
— Ando... Hm... Por aí.
— Vamos embora, ele não quer falar com você. — Ele me olha, como se ele tivesse ganhado o prêmio e eu perdido, o outro cara,
— Ah... Vocês ainda estão juntos, eu não tinha percebido que ele estava aqui. — Tento soar irônico.
— Você está bem mesmo? Precisa de alguma coisa? — Então, tudo que vivemos é possivel enxergar em seus olhos, e então eu me policio, para que eu não perca mais o controle da situação.
— Acho melhor você ir embora, ele pode ficar bravo com você.
— Não importa!
— Concordo, não importa mais. — Digo, firme, mas com uma dor aguda em minha garganta que me faz sair correndo, mais uma vez sem direção.
"Piada". Era o que martelava e então eu corria mais, até que, paro num bar e resolvo beber algo ainda mais forte que minha dor aguda. Um homem me olha e me faz um sinal pra ir no banheiro. Eu vou.
— Curte chupar?
Assenti com a cabeça.
— Então mama seu macho.
Engulo o seu sexo. Tem um cheiro estranho. É grande e grosso. Ele força na minha garganta e tampa meu nariz, eu deixo. Quero ir ao meu extremo, quero por algum momento esquecer.Ele me invade com seu membro e me tira o ar então manda eu virar de costas.
— A putinha também dá esse cuzinho?
Eu não respondi.
Então, antes de me preparar, ele está dentro de mim. E agora eu sentia duas dores e as duas eram agudas e as duas sangravam. Ele puxava meu cabelo e segurar forte minha cintura, e começou a me enforcar cada vez mais e me esmurrar, e eu não entendia mais se era sexo ou se era estupro, ele então chega a seu ápice e me empurra pro chão e me bate até eu não conseguir mais lembrar de como cheguei em casa.
Estou péssimo. Hematomas em todas as partes do meu corpo, quem me trouxe em casa? Filho da mãe, desgraçado! Por que fez isso comigo? Isso tudo é a falta de aceitação? Não consigo nem respirar direito, será que quebrei alguma costela? Mas fico satisfeito, pelo menos fiquei apagado por algum tempo e eu não lembrei e nem sonhei com o ocorrido, não me lembrava de ter encontrado ele e o outro cara... Eles ainda estão juntos, depois de tanto tempo... Tudo dói.
Tomo todos os analgésicos que eu posso e me levo para as ruas, eu preciso me distrair, preciso tirar de mim o que dói... Provavelmente ninguém vai me querer nesse estado, mas meus diamantes falsos estarão comigo. Bêbado e sobre as mesas, todos estão de plateia para a história que eu conto, depois de tanto tempo guardando a dor, uma hora, ela transbordaria e seria pela minha boca,e não pelo sexo com estranhos.
— Então, eu fui chamado de piada, vocês acreditam? Piada! Um pobre coitado! Todos sabiam que ele me traia e que ele não sentia mais nada por mim, todos sabiam que ele estava comigo por pena, por eu ter largado tudo pra morar com ele, por eu ter sido exonerado na minha família por assumir amar outro homem. E depois de três anos, eu sinto a mesma dor! Eu me destruo um pouco todos os dias, por não ter mais ninguém do meu lado. Eu sei que vocês podem estar pensando que é tudo drama, e que muito de vocês me veem todo dia com um homem diferente, mas esse foi o jeito de me fazer distrair. Você podem ver meus machucados? Veem como eu estou péssimo? Um desses caras que eu não sei o nome quase me matou... Talvez eu quisesse estar morto...
— Isso tudo... Foi eu quem fiz?
Era ele. Não o homem que quase me matou na noite passada, nem as centenas de homens que eu fiz sexo, mas sim ele.
— Olha só, quem está aqui! Esse é ele! Quem me deu os anos mais felizes e infelizes, parabéns ao senhor!
— Sem sarcasmo! Eu ouvi tudo... Eu não sabia... E eu tentei ir atrás de você depois daquele dia que você saiu da nossa casa transtornado.
— Sua casa! — Gritei. A loucura tomando conta de mim.
— Desce daí, temos que conversar.
— Não temos.
Então ele sobe na mesa e me puxa colocando-me em seus braços, me carregando até onde não tenha ninguém nos olhando.
— Me escuta!
Gargalho! — O que você tanto quer me falar? Você ainda está com ele.
— Eu não estou mais com ele!
— Vocês estavam juntos ontem...
— Foi uma coincidência... Ele estava aqui também. Nós não demos certo. Nós não continuamos, depois daquilo. Até tentamos, mas eu e ele nunca daríamos certo, ele não era você e eu falo isso com a maior mágoa do mundo, de ter feito o que eu fiz e de ter falado o que eu falei. Tudo que nós vivemos... Eu não queria ter jogado fora.
— Você não pode depois de tanto tempo falar essas coisas para mim, achando que vai corrigir.
Ele então se aproxima de mim e me segura mais firme. Meus hematomas gritam e eu faço isso junto. Ele não pode depois de tanto tempo e de tanta dor e de auto-destruição, agir como se nada tivesse acontecido. Mas eu tenho tanta saudade do seu lábio repousando no meu... Ele fixa os seus olhos nos meus e chega mais perto.
— Eu sinto sua falta.
— Eu também sinto sua falta... Mas não devemos. Passou tanta dor por mim...
— Eu escutei você contando desde o inicio... Eu também sofri sem você, eu falo sério. Mas eu sei que não foi como você... Eu queria roubar seu sofrimento para mim.
— Você disse que não me amava mais.
— Eu achei que não te amava. Tudo era tão comodo, tudo era tão sem emoção entre nós, você parecia distante e eu também, eu não quis te enganar, eu sou o único culpado, mas todos merecem uma chance de julgamento e quem sabe absorvição.
— Mas nem todos conseguem sofrer o que eu sofri duas vezes, e eu tenho certeza que eu também não consigo. Você me esvaziou por completo. Eu virei um lixo. Descobri muitas coisas da vida, que me enojam. Eu vi pessoas me tratando como um pedaço de carne e outro me usando como... Doeu muito ter minha família contra mim e não ter sido recebido em casa de volta, doeu muito ter os amigos, os nossos amigos, nenhum do meu lado, foi duro ter que começar sozinho e não ter você do lado.
— Você ainda me ama?
— Amo. Mas o amor nunca vai ser apenas o necessário. E tenho certeza que o seu amor não vai ser tão maior que o meu, que o seu amor, não conseguir preencher o meu vazio. Eu não quero mais me destruir como eu fiz durante todos esses anos, vou mudar, mas não voltarei.
— Eu te amo, eu tenho certeza que te amo.
Engasgo num choro de quem não sabe o que falar. Choro um choro de alivio e de lavagem da dor.A vida mostra ao ser humano o quão podre se é viver, mas só conseguimos perceber a podridão do mundo quando as costas e as portas fechadas são as únicas paisagens que podemos ver. A solidão me ensinou que meu vazio só eu posso preencher, a minha dor ensinou que só eu posso me curar. Destruir-me não me levou para nenhum bom lugar e só agora eu percebo, só agora eu percebo, porque sei, que foi porque ele veio até a mim, porque ele esclareceu tudo. Os meus diamantes falsos estão desgastados e está na hora de serem substituídos pelos novos.
— Olha... Eu acho que não...— Então ele me beija. Preenchendo tudo que estava vazio. Me trazendo de volta.
— Eu não vou ser uma piada outra vez.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Caos

Você gosta do meu caos, gosta de quando louco, grito seu nome.Você gosta quando o seu amor me machuca.
Eu tento fugir de você e me encontro preso nos seus braços nos meus sonhos. Eu quero fugir de você, porque cansei de alimentar essa dor que aumenta continuamente, incansável. Tento viver sem você preso em mim, mas seu cheiro, me perturba, sua voz assombra meu silêncio e me faz sempre cair em você, meu caos.
Você dizia que correr contra a corrente era tão difícil, eu não acreditava, mas agora que você é a corrente que eu tento enfrentar, para ver se dessa vez eu consigo arrebentar, tudo parece tão mais difícil. Em nossas fotos parecemos tão felizes e tão únicos, dois jovens que se amam, mas ficamos presos nas fotos.
Comer o pão que o diabo amassou não é tão gostoso, quando você sabe o gosto das nuvens, querido. Eu rogo pela sua volta desde a nossa ultima troca de palavras desajeitadas, tentando demonstrar que estamos bem sem o outro, e aí que mais uma vez vem a minha eterna, e cortante, dúvida: Você tem sofrido assim como eu? Eu rogo pelo seu arrependimento por ter me deixado, tão triste ver nossos sonhos serem desfigurados assim, como desenhos feitos na areia da praia. Eu não tenho forças. Eu já engoli muitos amores, não posso engolir mais um, não quero ter que seguir em frente mais uma vez, não quero ver você viajando para casa de outro novo amor, mas isso não é só sobre as minhas vontades... Eu escrevo agora engolindo a poesia e te mostrando a praticidade das coisas:
1. Volte para o meu lado, aqui é o seu lugar, ninguém é tão louco como eu sou e você sabe disso (e gosta disso);
2. Não desmorone o nossos castelo, você mesmo disse que faria de tudo para proteger nossa corte;
3. Eu sei que sua pele sente falta da minha e que seu coração chora por estar longe do meu, por que lutar contra tudo? Por que não tentar? Por quê?
Eu tenho o gosto de caos que te intriga, meus lábios repousam nos seus melhores que o dele. Minha mão toca você melhor do que qualquer outra mão. Eu espero você todas as noites. Espero seu beijo de boa noite e você se encaixando em mim como nos velhos tempos, todas as noites. Eu tenho não só o caos, mas tenho a doçura que lhe roubaram. Fume um cigarro comigo e me dê duas horas de conversa sincera, eu coloco nossos nós nos eixos e ainda te faço sorrir.
Você gosta do meu caos, e gosta da minha loucura.
Eu gosto da caótica vida que levamos juntos. Gosto do seu agridoce e do seu cheiro.
Caos é a minha vida sem você.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Azul

Azul.
Minha garganta ainda tem o gosto do seu pau, mas você não se lembra mais de mim.
Suas mãos seguram outras mãos e nenhuma delas são minhas. Um desapontamento me surge no peito, onde todos foram? Onde toda aquela história que tínhamos parou?
Um pouco de maldade, será que eu aguento mais algum corte na minha pele que todos gostam de tocar quando estão carentes? Se eu virasse o fantasma de todos, eu seria para sempre? Porque é isso que eu quero hoje a noite.
Correndo pro meu quarto, as lágrimas me afogam, rímel é o desastre das rainhas que choram, querido, você é apenas uma pedra no meu sapato, porém está no meu sapato favorito e isso me deixa tão triste. Correndo eu não penso, eu grito seu nome. Ainda tenho o gosto do seu pau na minha boca e você já tem outra no seu colo, é tão assustador o jeito que você age como se ela fosse eu, ou será que você age como se todas fossem iguais? Talvez meu ego seja um pouco iludido ao pensar que eu era diferente, só porque eu vestia o azul que te encantou.
Azul.
O céu também é azul.
Eles querem meu corpo, talvez eu entregue a eles, mas eu estou ainda esperando sua volta. Trate-me como as outras, eu aceito. 
Ela canta como eu?
Ela te diverte como eu?
Eu não ligo se formos parecidas, ela não é tão feia. Na verdade ela é até mais bonita, mas volte pra mim, eu mudo meu cabelo, tiro o azul e coloco o vermelho, posso ser má ou boa.
Engula isso, não, não esse, mas esse, quero que você engula meu peito, engula! Não o dela! O meu!
Surto.
Grito.
Não sei onde estou, todos me olham. O que você fez comigo? O que você fez quando disse que tudo havia acabado? Eu tinha acabado te chupar o seu pau!
O fim só existe para aquilo que começou, então isso é uma esperança? Porque o que acaba pode ter um recomeço, então posso vestir o verde e ter algum tipo de esperança?
Não, não faça isso. 
Não grite isso pra ela, dizer que ama é tão forte, que ela não vai aguentar, eu aguento o seu amor, ela não. Você sabe que ela não vai aguentar todas as traições como eu.
Submissa.
Demônia submissa, eu posso ser a dona do inferno junto com você, basta me chamar.
Ela não sou eu, mas agora eu a queria ser, porque sei que todas as noites é ela que você procura, em câmera lenta você sobe e abre suas pernas.
Azul. Azul, querido. 
Foi usando azul que você se encantou e será em azul que você se despedirá de mim.
Bang-bang!
Você disse que eu era tão boazinha e que isso te irritava, lembra? Você me jogava nas paredes e gritava que eu não era pra você, ainda se lembra? Você apontava minhas cicatrizes e dissertava sobre minha fraqueza, eu nunca me esqueci.
Então, vista essa camisa azul, quero que você se despeça em azul.
Bang-bang!
Louca.
Usarei aquela arma que você escondeu no meu quarto há duas semanas atrás, você queria que eu carregasse toda sua culpa.
Bang-bang! Agora você carregará toda minha dor.
Bang!
Bang!
Me despeço em azul, assim eu me torno a dona do inferno que você construiu quando me trocou, mas fique sabendo, que por mais que eu quisesse ser como ela e sempre achasse que ela era melhor que eu, ela não sou eu. 

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Dor

Dor.
Dor.
E mais uma vez, dor.
O coração se amassou e não foi culpa sua. Não teve culpado, não teve um erro, só teve nós.
Amor.
Amor.
E mais uma vez, dor.
Nascemos na primavera e agora vivemos o outono, em pleno verão. Nossas flores estão no chão, nos transformamos em galhos secos e isso é tão triste.
Dor.
Você e sua boca grande, me faziam feliz, eu gostava do seu nariz maior que o de todos, eu gostava dos seus olhos brilhando ao olhar nos meus, eu gostava de nossas mãos entrelaçadas, do gosto de cigarro da sua boca. Era diferente de tudo, você foi a minha primeira descoberta verdadeira. Você foi... E é tão massacrante pensar em você indo.
Suas pernas, sua barriga, sua bunda. Sua voz grossa, seu beijo e nosso sexo. Sua coragem e sua força. Você veio. Veio com tudo. Você não pode ir.
Dor.
Dor.
Dor, amor, agora é tudo dor.